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Caderno de Resumos

 

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CADERNO DE RESUMOS:

 

Eliane Robert Moraes:

 

Rastros de Sade no Brasil (15/12 - 19h)

 

A conferência visa a interrogar repercussões de Sade nas artes brasileiras, com especial atenção à literatura, desde o século XIX até a atualidade. Influência velada, por certo, mas não menos significativa, já que há inclusive registros de artistas e escritores que leram o Marquês com grande interesse, como é o caso de Flávio de Carvalho ou de Roberto Piva. De outro lado, para além da influência direta, também se buscará indicar outras formas de ressonância entre o autor de Justine e as nossas letras. Ou seja, interessa reconhecer pontos de contato entre o texto sadiano e certos escritores nacionais atentos ao que poderíamos chamar de “parte maldita brasileira”, em particular aqueles que exploraram manifestações do excesso erótico. Mais que um eventual exercício de literatura comparada, portanto, a conferência visa a explorar a figura de Sade como um paradigma a partir do qual se torne possível indagar aspectos da literatura brasileira ainda pouco trabalhados entre nós.

 

Jean-Christophe Abramovici:

 

Sade et les limites du corps (16/12 - 10h)

 

L’érotisme violent de Sade brouille en tout lecteur les contours du désirable. Il participe aussi d’un imaginaire où les limites du corps sont elle-même perturbées. Les charniers de Sade ne participent pas simplement de la défense d’un monisme matérialiste où l’idée d’âme ou de spiritualité se trouvent effacées: la destruction participe de la création d’autres corps, explore de nouvelles limites.

 

Clara Castro:

 

Sade entre Epicuro e Zenão (16/12 - 10h45)

 

Nos romances clandestinos de Sade, há referências a duas correntes filosóficas não somente distintas, mas aparentemente incompatíveis. De um lado da fronteira, há o fluido elétrico, substância plena cuja origem remonta ao pneuma dos Estoicos. De outro, a metempsicose materialista, que retoma o atomismo de Epicuro. Quanto ao primeiro, o século XVIII foi marcado pelos experimentos com a eletricidade, apresentada então como um fluido invisível, capaz de se propagar por toda parte, na matéria viva bem como na matéria inerte. No ser humano, tal fluido circula dentro dos nervos, de modo a ligar o cérebro aos músculos para produzir sensações e movimento. Paralelamente, os princípios transmitidos por Lucrécio se disseminam na literatura clandestina. Pretendia-se refutar a existência de Deus como causa primeira do universo e comprovar a materialidade da alma, explicando todas as transformações dos corpos pelo movimento perpétuo dos átomos. Em seu sentido materialista, a transmigração ou metempsicose seria uma reorganização da matéria sob diferentes formatos. Esta comunicação pretende examinar como Sade transgride as divisas entre essas duas correntes nas teorias filosóficas e nas práticas orgiásticas de seus personagens.

 

Daniel Ferreira:

 

O pensamento de Sade nos limites retórico-filosóficos da Época Moderna (16/12 - 14h)

 

A análise histórica dos textos de Donatien de Sade deve estar ancorada na compreensão das regras retóricas e linguísticas vigentes no século XVIII. As matrizes que orientam a escritura ficcional francesa em sua relação com a filosofia, na Época Moderna, tendem a ser guia para uma aproximação desse pensamento. Em associação com os movimentos contraditórios de transformação da linguagem, delimita-se uma possibilidade de perceber os elementos de formulação e reelaboração da linguagem, conforme utilizada por Sade, como um dos meios fundamentais para a compreensão desse pensamento em seus vínculos com a filosofia libertina moderna. O corpo e o herói evidenciados na ficção de Sade revelam-se, então, em movimentos e sentidos inéditos. A desconstrução dos corpos ou a superficialidade das personagens apresentadas nas ficções de Sade passam a ser vistas segundo uma lógica em que impera uma monotonia de performances, em uma espécie de escritura que põe em cena tipos. Corpo, homem e mundo revelam-se em um mesmo fluxo que impõe um sentido imediato à ação, inscrevendo-se nela sem um caráter essencialista, mas sim produzido na contingência do instante. Os laços matriciais da linguagem e da formulação retórica clássicas surgem em novos sentidos, dada a capacidade do pensamento de Sade em reler as formas dessa cultura em uma radicalidade que evidencia as fronteiras da representação racional do mundo e sua ordem essencialista. Uma leitura de Sade por esses parâmetros resulta em colocá-lo nos limites da linguagem libertina que, no século XVIII, ainda mostra relações de semelhança com a cultura do Antigo Regime e suas noções de ordem de mundo. Em contrapartida, opera-se pelo afastamento das interpretações que lidam com a enunciação de Sade como uma das faces da modernidade. Trata-se de afirmar, desse modo, o estranhamento desse pensamento à lógica e ordens sociais contemporâneas.

 

Gabriel Giannattasio:

 

A obra do marquês de Sade na academia: limites de um ambiente inóspito (16/12 - 14h45)

 

Já faz algum tempo Camille Paglia, num texto publicado no Brasil nos anos 90, escreveu que sentia a falta da presença da literatura sadeana nos currículos acadêmicos das universidades americanas. Poderíamos estender esta ausência aos currículos acadêmicos das universidades de outros países, inclusive, das universidades brasileiras. Por um bom tempo esta questão se apresentou a mim de forma perturbadora. Qual a relação possível entre a herança sadeana, seu pensamento, sua literatura e o espaço dominado pela racionalidade acadêmica? Esta questão pode nos remeter às relações que o próprio Donatien Alphonse François de Sade manteve com o ambiente filosófico iluminista do século XVIII. Ou seja, as relações que estabelecermos entre o pensamento sadeano e o século das luzes tem muito a nos dizer sobre as relações e os limites de seu pensamento no ambiente acadêmico contemporâneo. Parece-me, e é este argumento que pretendo explorar neste ensaio, que a distância ou a adesão crítica que o pensamento sadeano estabeleceu com o projeto filosófico iluminista no século XVIII, nos permitirá compreender o espaço acadêmico, marcado por uma linguagem crítica, racional, sistêmica, conceitual e universal, como inóspito ao modo muito particular de pensar do libertino francês.

 

Stéphane Pujol:

 

Dépense productive, dépense improductive et expérience des limites chez Sade (16/12 - 16h30)

 

Le refus sadien des limites ne peut être pensé que dans son rapport à la loi. Celle-ci se décline chez Sade de deux manières très distinctes: la loi de la nature et la loi morale. Aux yeux du Marquis, seule la nature a force de loi, mais c’est en quelque sorte une loi autonome échappant aux individus qui peuvent l’exécuter aussi bien activement que passivement: une loi sans norme, purement physique ou mécanique et basée sur un équilibre des forces. La loi morale au contraire n’existe que pour être bafouée, car c’est de sa négation que le libertin tire une bonne partie de son plaisir. A partir de cette double expérience de la loi, nous voudrions étudier le fonctionnement de l'érotique sadienne, et plus précisément les liens qu’elle semble établir entre discours philosophique et discours économique. Notre analyse s’inscrira notamment dans la perspective ouverte par Georges Bataille sur les notions de perte et de dépense improductive qui s'inscrivent en marge des activités de production et de conservation caractérisant les opérations économiques. Bien qu'a priori étrangère aux échanges marchands, la machine érotique de Sade a pu être interprétée à la fois comme calcul et comme gaspillage, comme sacrifice à la fois utile et inutile, comme dépense tantôt finalisée et tantôt gratuite. Entreraient ainsi en concurrence deux modèles possibles qui permettent de légitimer le refus sadien des limites et qui entretiennent tous deux un rapport étroit avec l’économie : celui de la nature, caractérisé par un souci d’équilibre, une dialectique des forces, un jeu de création et de destruction réciproques, une consommation généralisée ; celui qui traverse inconsciemment toute la réflexion morale, et qui prend chez Sade une résolution très singulière : alors que la morale se construit sur un principe de réciprocité, de don et de contre-don, de bienfaits et de reconnaissance, la lecture économique que Sade fait des rapports sociaux tire ceux-ci du côté d’un égoïsme radical, d’une dissymétrie de principe, d’un sacrifice à la loi du plus fort. Contre le désir de la loi qui permet à la communauté d’exister, l’érotique sadienne défendrait alors la loi du désir qui suppose contradictoirement que l’autre résiste pour être défait, qu’il existe comme objet tout en cessant d’exister comme sujet. Car c’est évidemment dans la limite que l’autre oppose à son propre désir que le libertin parvient réellement à jouir de la transgression des limites.

 

Eduardo Jorge:

 

Uma moeda impossível, um corpo inesgotável: a economia sadeana no século XX, entre Pierre Klossowski e Georges Bataille (16/12 - 17h15)

 

Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido por Marquês de Sade, levou a representação aos seus limites e ele o fez a partir do grande decoro teatral da retórica para transgredir aquilo que, em geral, nos representa pelo viés das leis humanas e espirituais. Se podemos falar em crise da representação a partir do corpo na obra de Sade na sua economia textual é porque existe uma forte discussão em torno do valor. Assim, a leitura de Sade proposta será feita a partir do valor retórico e paródico em dois autores fundamentais para sua recepção no século XX: Pierre Klossowski e Georges Bataille. Enfim, pelo primeiro pelo valor de uso e pelo movimento retórico fundamental para o movimento contínuo dos corpos.

 

Juliana Bratfisch:

 

Viver com Sade. A perversão como modelo de escrita em Roland Barthes (17/12 - 10h)

 

Para que Barthes possa viver com Sade foi preciso arrancar toda a fé que dele possa ser extraída – o sadismo – para dar lugar a um princípio fundamental: os corpos dilacerados, os golpes dos libertinos em suas vítimas, as fantasias sadianas são apenas um uso justo, exato e cru da linguagem, império absoluto da ficção. Na leitura que Barthes faz de Sade a perversão se torna um quase sinônimo de escrita. Dessa pequena orgia, porém, em aparência tão harmoniosa, talvez Barthes tenha saído muito mais corrompido pelo crime do que se possa imaginar. Na escrita barthesiana há um antes e um depois da leitura de Sade: o Barthes estruturalista e sistemático de “A árvore do Crime” – publicado posteriormente com o título de “Sade I” – dá lugar a um Barthes que goza ao entrever a morte na linguagem nos fragmentos de “Sade II”. Será questão aqui de abordar a apropriação barthesiana de Sade e compreender como a perversão do corpo poderia ser lida um modelo para escrita no século XX.

 

André Luiz Barros:

 

Sensível até a crueldade – A verossimilhança singular de Sade (17/12 - 10h45)

 

A obra de Sade incorpora de forma singular transformações no modo de lidar com o pathos e com a fábula. Trata-se de investigar como a literatura da sensibilité o ajuda a contrapor-se à racionalidade de alguns philosophes, bem como a pensar a violência e a crueldade no âmbito do ser sensível, para além do proposto pelo materialismo da época. Entre seu gosto pela História (que o ajuda a refletir sobre o novo papel da ficção) e o roman de sensibilité – bem como a teoria diderotiana que o acompanha –, Sade parece propor um novo tipo de verossimilhança da sensibilidade entendida como subjetividade que inclui seu limite e seus avessos (expandindo, de dentro, a noção de sensibilité como contraponto à nova objetividade iluminista). Em obras como Les crimes de l'amour e Histoire secrète d'Isabelle de Bavière ele demonstra uma imbricação entre a seriedade do transbordamento da sensibilité e sua nova (e estranha) pseudoantropologia. Seria possível, passadas décadas da construção de um Sade votado à pura crueldade, inverter a visão a seu respeito e ver um Sade que explora a sensibilité (subjetiva, e não fisiológica ou puramente materialista) até seu paroxismo antimaterialista?

 

Maria das Graças de Souza

 

Republicanismo e sanção da lei na França Revolucionária: Sade republicano (17/12 - 14h)

 

Examinarei dois textos políticos de Sade, nos quais ele propõe um procedimento a ser instituído na elaboração das leis que possa efetivamente fazer da lei a expressão da soberania popular. Os textos em questão aqui são a Adresse au roi des français, de 1791, e Idée sur le mode de la sanction des lois, de novembro de 1792.

 

Franklin de Matos:

 

Justine: entre a apologética cristã e o conto voltairiano (17/12 - 14h45)

 

Minha comunicação pretende mostrar que, na primeira Justine, Sade se apodera, de um lado, da retórica e das finalidades da apologética cristã, de outro, da forma do conto filosófico voltairiano, e assim recusa ao mesmo tempo, em nome de seu conhecido imoralismo, a moral cristã e a moral das Luzes.

 

Armelle St-Martin:

 

Sade chroniqueur ou l'écriture à l'épreuve du quotidien (17/12 - 16h30)

 

Sur le plan narratif, les excès que mettent en scène les romans de Sade ont été abondamment analysés. La critique s'est, entre autres, récemment interrogée sur la disparition des frontières entre les disciplines, la fiction sadienne se mêlant à la philosophie, voire à la médecine ou à l'histoire naturelle. Aussi le trait le plus frappant des romans tels que Justine ou Juliette résiderait dans leur capacité à gommer les limites. Toutefois, il convient de se rappeler que l'écriture de Sade dépasse les confins du romanesque pour embrasser notamment ce que j'appelle la littérature de survie : il faut en effet tenir compte des nombreux opuscules écrits sous la Révolution et des récits de voyage ; Sade compose ou publie ces textes dans des conditions de tensions extrêmes. Peu commentés, ils peuvent se ranger sous la bannière du reportage ou de l'écrit journalistique. Ce sont donc ces textes que je souhaite interroger pour, d'une part, montrer que le débordement comme stratégie d'écriture y est tout aussi présent que dans les sommes romanesques, et d'autre part, que les contingences de la vie matérielle sont autant de prétextes à une écriture de la transgression.

 

Mariana Teixeira Marques:

 

O libertino à moda inglesa em Sade e Frances Burney (17/12 - 17h15)

 

Em suas Idée sur le romans, Sade defende o argumento de que os romancistas ingleses – mais precisamente, Richardson e Fielding – vêm dar lições aos franceses, pois “são eles que nos ensinaram que o estudo profundo do coração do homem, verdadeiro dédalo da natureza, é o único que pode inspirar o romancista, cuja obra deve nos fazer vislumbrar o homem (...) como ele pode ser, tal qual o transformam as modificações do vício, e todos os abalos da paixão.” Partindo da composição dos personagens Granwel e Clement Willoughby, essa comunicação pretende sugerir uma aproximação entre Miss Henriette Stralson, ou les Effets du désespoir – história provavelmente escrita por Sade na Bastilha e publicada em 1926 por Maurice Heine na coletânea Les Crimes de l’amour – e o romance Evelina, or the History of a Young Lady’s Entrance into the World (1778), de Frances Burney. Trata-se de identificar pontos de confluência entre a imagem do celerado tal qual ela se configura no romance de Frances Burney e aquela que se revela na narrativa à l’anglaise imaginada pelo marquês: que vícios e paixões norteiam a conduta desses personagens no desenrolar dos dois enredos? Tendo Lovelace, o sedutor de Clarissa, como referência incontornável, como se desenha a figura do libertino inglês na comparação das duas obras?

 

 

Michel Delon:

 

Sade ou l'humanisme impossible (17/12 - 19h)

 

A l'heure où la philosophie des Lumières semble proposer une vision du monde débarrassée de l'ancienne fatalité et où la Révolution française fait basculer du temps cyclique dans le temps progressif, Sade déploie un imaginaire romanesque qui dénonce l'optimisme anthropologique et l'espoir du progrès. Il récuse tout providentialisme dans l'histoire, tout finalisme dans la nature, mais dénonce tout autant la foi dans l'homme seul aussi bien que dans les hommes réunis. Sa vision noire serait-elle l'équivalent de l'état de nature de Rousseau, une fiction théorique destinée à mieux comprendre le devenir de l'humanité?

 

 

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